Brasília: Utopia Modernista ou Cidade Fragmentada?

February 4, 2023 Diego O.

Brasília: Utopia Modernista ou Cidade Fragmentada?

A capital planejada, Brasília, é uma obra emblemática do modernismo brasileiro, nascida da mente de Lúcio Costa e adornada pelos traços curvos de Oscar Niemeyer. É uma cidade que, à primeira vista, parece materializar o sonho modernista: amplos espaços abertos, funções urbanas segregadas de forma clara e uma estética que privilegia o mínimo, o funcional, o elegante. Brasília é, sem dúvida, um marco, um recorte do futuro que os idealizadores acreditavam ser possível.

No entanto, há quem veja nessa utopia um fracasso colossal. Brasília, ao mesmo tempo que é admirada pela sua inovação, é também criticada como um dos piores exemplos de urbanismo no mundo.

A escala humana, tão vital em qualquer cidade, parece ter sido esquecida aqui. Projetada com o carro no centro das atenções, Brasília oferece largas avenidas que dificultam a vida de quem quer caminhar. A separação rígida entre áreas residenciais e comerciais transforma a cidade em um labirinto frio, que não acolhe o pedestre.

A segregação das funções urbanas, outro pilar modernista, aqui atinge o extremo. Moradia, trabalho e lazer estão distantes, separados por quilômetros de asfalto. Para ir de um ponto ao outro, é preciso carro, sempre o carro. Isso cria um espaço urbano fragmentado, onde a coesão e a vitalidade que se vêem em outras metrópoles ficam no papel, nunca se materializam.

Essa fragmentação espacial também alimenta a desigualdade social. As classes menos favorecidas acabam relegadas às cidades-satélites, longe do Plano Piloto, longe do coração da cidade, longe das oportunidades. A geografia da desigualdade em Brasília é, de certo modo, um produto do seu urbanismo.

Outro problema é a falta de vida nas ruas. As superquadras e as áreas vastas e sem uso misto são um convite ao vazio. O pulsar da vida urbana, aquela mistura vibrante de comércio e residência que faz outras cidades tão atraentes, é raro por aqui.

Com o tempo, a cidade não conseguiu se adaptar ao crescimento populacional e às novas demandas. O trânsito piorou, a poluição aumentou, e as áreas ao redor do Plano Piloto se expandiram de maneira desordenada. Brasília, na prática, mostrou as limitações do sonho modernista.

Ainda assim, não se pode ignorar a importância de Brasília como experiência histórica e arquitetônica. Mas é impossível não reconhecer que, na tentativa de construir uma utopia, talvez tenham criado uma cidade que, apesar de sua beleza monumental, falha em ser realmente vivível.

References

  1. Holston, James. The Modernist City: An Anthropological Critique of Brasília. University of Chicago Press, 1989.
  2. Amaral, Aracy A. Brasília: Ideologia e Realidade. Perspectiva, 1977.
  3. Lefebvre, Henri. The Production of Space. Wiley-Blackwell, 1991.
  4. Tavares, Myrian Sepúlveda dos Santos. Brasília: Urbanismo Moderno e Exclusão Social. Editora FGV, 2005.

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